O direito de ser péssima
- layssilvapsicologa
- 6 de fev.
- 2 min de leitura
Bom, fui inventar de fazer lira, um esporte circense com o qual nunca tive contato e que poderia ser só um esporte, até me deparar com a insuficiência. E, como quem não quer nada (ou quero?), me deparo com a seguinte frase da Lana, que aqui irei reescrever:
"Resolvi aprender lira já adulta, e isso me exige uma coragem imensa: a coragem de ser ruim. Péssima."
E aí, eu quis desistir. Acho que a lira não é para mim. E, de fato, pode não ser, mas isso não significa que eu não possa curtir o prazer de fazer algo novo. Sei lá, por acaso a minha meta é ser uma circense e, para isso, preciso ser excepcional? Acho que, em muitas ocasiões, simplesmente esquecemos o desejo inicial de fazer algo e colocamos nossa vontade de não falhar acima de tudo. E aí, facilmente, vira um lugar de desistência. E aí, facilmente, paralisamos. Se frustramos.
Fico me perguntando: quantas coisas novas não levamos para frente ou nem começamos porque queremos evitar bater de frente com a sensação de insuficiência? Mas como começar algo novo se a gente não se permite ser péssima?
No budismo, há um conceito chamado Shoshin , que significa a "mente do iniciante", que basicamente é olhar para um ensinamento como novidade, independente do seu nível de conhecimento:
"Essa abordagem é a porta para expulsar a vaidade do excesso de conhecimento, que pode barrar não só o aprofundamento das nossas verdades (afinal, como ouvir sobre algo que julgamos saber demais?), como também nos fechar em um ponto de vista único, imóvel, incapaz de virar o pescoço para o lado e notar a cintilância da vida. Novas ideias pedem humildade. Conceito apaixonante." —Lana.
Aprendemos a desaprender o tempo todo. Aprendemos a ser ruins o tempo todo. Viver, é um grande desaprendizado e um eterno aprendizado, não?
Não existe atalho para ficar bom em alguma coisa a não ser começar sendo muito ruim nela.
Eu posso ser péssima na lira, fazer umas figuras que me façam sentir um ser humano absurdamente esquisito ou simplesmente pagar o ridículo e, ainda assim, nem por um segundo interromper o prazer de estar ali e achar irado me pendurado em um bambolê gigante.
Perdemos tanto tempo atrás da perfeição, que tudo o que não é impecável é descartado, mesmo quando o resultado torto é a felicidade. E sinceramente, acho que olhar pra esse lugar torto não me faz querer me encaixar, me faz querer viver.
"Haja ego para só gostar da nossa excelência — e haja dor, porque somos excelentes em pouquíssimas coisas." —Lana.
Me conta deusa, você se da permissão para ser péssima?




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